Copo vazio...
Pego no copo vazio que enche o tempo e invento que há
luz.
Não vês o copo vazio por onde fujo sem ver?
Quem...........Quer.............Sai!
Quem...........Quer.............Sai!
Lá fora a dor é maior e ninguém quer sair...
Fico no copo vazio onde me lanço. Danço em paz.
Sou como um copo vazio. Ando num resto apagado. Sou
como um rasto
Quebrado. Um rato. Um corpo. Fechado. Parou!
Quem...........Quer.............Sai!
Quem...........Quer.............Sai!
Lá fora a dor é maior e ninguém quer sair...
Quem...........Quer.............Sai!
Quem...........Quer.............Sai!
Lá fora a dor é maior e ninguém quer sair...
Lá fora a dor é maior e ninguém quer cair...
Só quem quer.
Toranja - Copo vazio
''Todos os dias acontecem no mundo coisas que não são explicáveis pelas
leis que conhecemos das coisas. Todos os dias, faladas nos momentos,
esquecem, e o mesmo mistério que as trouxe as leva, convertendo-se o
segredo em esquecimento. Tal é a lei do que tem que ser esquecido porque
não pode ser explicado. À luz do sol continua regular o mundo visível.
O alheio espreita-nos da sombra.
(...)
O próprio sonho me castiga. Adquiri nele tal lucidez que vejo como real
cada coisa que sonho. Era perda, portanto, tudo quanto a valorizava como
sonhada.
(...)
Escrevo isto sob a opressão de um tédio que parece não caber em mim, ou
precisar de mais que da minha alma para ter onde estar; de uma opressão
de todos e de tudo que me estrangula e desvaira; de um sentimento
físico da incompreensão alheia que me perturba e esmaga. Mas ergo a
cabeça para o ceu azul alheio, exponho a face ao vento
inconscientemente fresco, baixo as pálpebras depois de ter visto,
esqueço a face depois de ter sentido. Não fico melhor, mas fico
diferente. Ver-me liberta-me de mim. Quase sorrio, não porque me
compreenda, mas porque, tendo-me tornado outro, me deixei de poder
compreender. No alto do céu, como um nada visível, uma nuvem
pequeníssima é um esquecimento branco do universo inteiro.''
leis que conhecemos das coisas. Todos os dias, faladas nos momentos,
esquecem, e o mesmo mistério que as trouxe as leva, convertendo-se o
segredo em esquecimento. Tal é a lei do que tem que ser esquecido porque
não pode ser explicado. À luz do sol continua regular o mundo visível.
O alheio espreita-nos da sombra.
(...)
O próprio sonho me castiga. Adquiri nele tal lucidez que vejo como real
cada coisa que sonho. Era perda, portanto, tudo quanto a valorizava como
sonhada.
(...)
Escrevo isto sob a opressão de um tédio que parece não caber em mim, ou
precisar de mais que da minha alma para ter onde estar; de uma opressão
de todos e de tudo que me estrangula e desvaira; de um sentimento
físico da incompreensão alheia que me perturba e esmaga. Mas ergo a
cabeça para o ceu azul alheio, exponho a face ao vento
inconscientemente fresco, baixo as pálpebras depois de ter visto,
esqueço a face depois de ter sentido. Não fico melhor, mas fico
diferente. Ver-me liberta-me de mim. Quase sorrio, não porque me
compreenda, mas porque, tendo-me tornado outro, me deixei de poder
compreender. No alto do céu, como um nada visível, uma nuvem
pequeníssima é um esquecimento branco do universo inteiro.''
Fernando Pessoa - Livro do desassossego
Crenças.. desnorteadas...
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