80's





Voyage, voyage
Plus loin que la nuit et le jour,
Voyage (voyage)
Dans l'espace inouï de l'amour
Voyage, voyage
Sur l'eau sacrée d'un fleuve indien
Voyage (voyage)
Et jamais ne revient...

Esta noite...

...vou repousar a cabeça na almofada e deixar-me apenas levar por ai.

Vou percorrer tudo o que já fui, e tentar encontrar(-me) onde me perdi...

Quero-me de volta! Quero-me...apenas*



(3h12m)

Por ai...

Há pessoas e pessoas.

Sou normalmente abordada na rua…Enquanto espero pelo autocarro; na estação de metro; à espera que o sinal vermelho passe rapidamente para verde…!

Normalmente, idosos. Com aquela falta de diálogo que os arrasta para a solidão... Escuto-os atentamente. Falam-me da família, do país que já não é o que era, das suas dores... Aceno que sim e dou-lhes o meu melhor sorriso... Sei que não pedem mais de mim! =’]

Um destes dias que passou, deparei-me com alguém diferente... Era final da tarde, e eu acabava de me sentar no banco da paragem à espera do meu habitual 504.

Não era idoso, não era jovem.

Não aparentava ser da «elite», não era «de rua».

Estava entretido a ler uma revista… Até que nos apareceu um pobre de rua (esses pobres farrapos humanos) a pedir uns trocados. Despachou-o com uma rapidez que jamais tinha visto! «Oh pah, ou pedes com atitude ou não vais a lado nenhum! Não choramingues, faz-te homem!» Achei cruel a maneira como ELE tinha falado para o pobre rapaz… Imediatamente começou a falar para mim e a explicar aquela sua atitude.

«Também eu andei nesta vida menina... Nunca bebi! A minha onda era mais drogas... Fumei uns charritos, andei ai na coca…Hoje em dia sou economista, tirei um curso. Batalhei muito na vida!».

As pessoas olhavam-nos de lado, com aquele olhar nojento de descriminação…Juntou-se então mais a mim e começou a falar mais baixo. Contou-me uma série de coisas... Mostrou-me inclusive uma foto, fardado, do último dia que esteve em Angola! Era ainda jovem, 24anos. Esteve lá 6anos…

Coincidência ou não, esperávamos o mesmo autocarro.

«Não ligues ao facto de te tocar... Normalmente as pessoas fogem! Tem medo! Mas sinto a necessidade de ‘sentir’ as outras pessoas... Deve ser do meu signo, gémeos!» dizia ele, enquanto me segurava o braço.

«Sabes qual o mal dos drogados?» disse baixinho «Falta de AMOR!! Eu amei muito e fui também muito amado, mas nunca me encontrei com o meu amor…» dizia-me com as lágrimas nos olhos… e então pediu-me que lhe desse as mãos e desabafou por fim «Sabes? A Vida é uma laranja! Ou a esprememos e obtemos um bom sumo..ou então tornar-se-á seca!» Tínhamos ambos os olhos banhados em lágrimas…

Carreguei no botão STOP do autocarro.

«Voltaremos a encontrar-nos, tenho a certeza» disse-me.

Sem olhar para trás, sai do autocarro.

As lágrimas escorreram-me pela cara e não fiz o mínimo esforço para tentar detê-las.

Naquele dia, não fui eu que dei o meu sorriso e atenção a alguém... Deram-me a mim!

Aquele homem tinha algo de diferente e especial... Lera-me a alma!

As pessoas olhavam-nos... Talvez porque ele tivesse um casaco roto remendado e não tivesse umas calças propriamente ‘novas’. Talvez porque até nem tivesse um aspecto por ai além e pudesse parecer pouco lúcido…Talvez nem fosse economista, como me tinha dito... Mas isso para mim, NÃO INTERESSA!

As pessoas julgam tudo e todos pela aparência!!...

«És especial» disse-me…

Lembro-me todos os dias de todas as palavras que me disse… Palavras sábias.

Estejas onde estiveres, sejas tu quem fores… Espero que te cuides, neste mundo*

Há pessoas com ‘dons’... e TU és possuidor certamente de um.